As pegadas de Christus Nóbrega
Texto e imagens de Bernardo Scartezini
Christus Nóbrega passou na Austrália os três primeiros meses do ano. Bem no auge do verão. Levou para o Canberra Contemporary Art Space a sua mostra Labirinto. E emendou a montagem da exposição com uma residência artística.
O auge da temporada austral foi uma viagem cruzando o deserto – de Sydney até Alice Springs. Exatinho o mesmo trajeto do filme Priscilla, a Rainha do Deserto (1994), de Stephan Elliott. E assim Christus Nóbrega, artista paraibano radicado em Brasília, começou a bolar seu projeto In the Footsteps of Priscilla.
Para falar sobre esse trabalho em andamento, Christus entrou nesta edição do BSB Plano das Artes e montou uma explanação verbo-visual sobre a empreitada – ocupando na manhã de sábado a Referência Galeria de Arte (justamente de onde a mostra Labirinto, há um par de anos, partiu em itinerância).
Para dar um “gostinho” do trabalho que vem desenvolvendo, Christus explicou que seu interesse por Alice Springs vai além do paralelo com as drag queens do filme Priscilla. A cidade, ele percebeu, é uma espécie de “coração etnográfico” da Austrália, centro de uma reserva aborígene e, por isso, um lugar de resistência.
Resistência, em vários sentidos. “Alice Springs fica no meio do deserto e só chegando lá eu fui ter ideia do que é isso. Uma viagem muito hostil, poucos australianos fazem isso que fiz. Uma viagem muito distante, muito difícil de ser feita.”
Para se ter ideia, Christus ilustra, os ônibus que cruzam aquela região têm o pára-choque dianteiro reforçado. Para dar conta do impacto de não raros atropelamentos de cangurus – porque os bichos, à noite, ficam hipnotizados pela luz do farol e não saem da frente.
Atropelando cangurus à noite e curtindo um solaço de 49 graus de dia, Christus Nóbrega, ao seguir as pegadas de Priscilla, aprendeu a enxergar o deserto – também – como uma alegoria da resistência do movimento LGBT num ambiente hostil e árido. “Continuaremos a fazer festa não importa como o mundo esteja.”
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