Cores e sombras de Ralph Gehre

Cores e sombras de Ralph Gehre

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Ralph Gehre tem aberto a porta de sua casa, na 709 Sul, para pequenos grupos de visitantes. Seu ateliê caseiro sendo um dos pontos de interesse das rotas do BSB Plano das Artes, que segue destrinchando o Distrito Federal até este domingo 2 de junho.

Visitar a casa de Gehre, por mais gentil e bom de prosa que seja nosso anfitrião, no entanto, é apenas metade da história. A outra metade só se completa quando entramos na Referência Galeria de Arte, na comercial da 202 Norte, para onde o artista levou sua mais recente produção.

Jogo de Simples, a mostra em cartaz até 13 julho, ganhou seu título graças a uma analogia que se apresentou para Gehre numa de suas investidas diárias diante da pintura, contra a pintura, sobre a pintura. Estava ele ali, misturando cores na 709 Sul, quando se deu conta de que a superfície plana de um quadro bem poderia valer como a superfície plana de uma quadra de tênis. Ou de um tabuleiro. Um campo de jogo.

“É como construir um campo onde se dá um jogo relacional entre duas ou mais pessoas”, compara Gehre, em visita guiada na Referência, meio-dia de sábado. “Se não houvesse esse centro de atenções, esse campo, esse pequeno tabuleiro, as relações seriam mais dispersas. Assim é o embate com a pintura, essa coisa difícil que é a pintura. O meu entendimento da pintura como um corpo impõe esse caráter relacional. Porque uma obra minha não é o decalque de uma ideia antecipada. A pintura me impõe limites. A pintura é plástica e é líquida. Não é domesticada.”

Nestas peças trazidas cá para a Referência, Gehre trabalhou em tinta acrílica, ora sobrepondo cores, ora justapondo. Com linhas, demarcou sobre as superfície diferentes campos, quadrantes. E sobre algumas destas pequenas telas, estendeu aletas, bordas compridas, emprestando volume e dando características de objeto às pinturas. Essas aletas tanto se revelam como extensões da superfície do quadro, possíveis de serem pintadas, quanto criam jogos de sombra, alterando a harmonia cromática e lançando o artista a novos desafios. Afinal… “A sombra é também um entintamento”, aponta Gehre.

Um jogo de tênis em que o artista está diante da natureza da arte. Nesse embate, nessa conversação entre arte e artista, Ralph Gehre diz arrancar breves momentos de prazer, justamente quando “a pintura se revela” para ele – o que só acontece em pleno ato de pintar.

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